segunda-feira, 1 de abril de 2013

Atrevida! Nem pediu licença.


Crônicas de militante


A ideia de formar uma associação de empregados não era nova. Tínhamos alguns relatos de iniciativas anteriores e sem sucesso. Numa empresa nascida e criada no ambiente autoritário do regime militar, qualquer iniciativa que alterasse o fluxo hierárquico era indisciplina, e ponto final. Entretanto, os tempos eram outros e também eram outros os que estavam ali, em 1984, conversando sobre o país, sobre suas possibilidades e sobre suas questões, entre elas o sistema estatal, o setor de Telecom e a Embratel.

Uma ação organizada dos empregados era necessária. Sindicato era uma palavra completamente estranha para os empregados. Cooperativa para a aquisição vantajosa de produtos e serviços era uma ideia que agregava. As investidas de grupos internacionais para as privatizações já era um fato e uma das preocupações. Quais seriam as reações diante da nossa iniciativa? E os demais empregados, o que pensavam? Afinal, a relação da empresa com os seus empregados era um dos principais assuntos motivadores da ideia de associação.

As reuniões prosseguiam, desde 1982. Algumas esvaziadas, outras concorridas. Umas sem conflitos, em outras quase luta corporal. As convocações eram boca-a-boca, sem alardes. Aconteciam após o expediente, ora em salas da empresa, ora no sindicato dos engenheiros e, nos últimos tempos, na Associação de Empregados da Eletrobrás, criada em abril de 1983, e que funcionou como uma espécie de madrinha do algo que ainda estava em gestação.

A primeira deliberação significativa foi colocar a cara na rua, em uma panfletagem na porta dos prédios com uma pesquisa consultando a opinião dos empregados sobre a formação de uma associação. Hoje parece que foi uma brincadeira de criança, mas há 30 anos foi um atrevimento. Um tempo em que muitos empregados encolhiam-se com receio de estender a mão e receber um panfleto na porta da empresa. A pesquisa mostrou uma aprovação quase unânime da ideia e, ato seguinte, realizamos uma convocação pública para discutir o assunto em uma reunião aberta, verdadeiramente ampliada em relação ao grupo original de militantes.

A presença na reunião ampliada foi enorme. Os participantes entusiasmados, um reflexo da agitação que tomou conta de muitos ambientes da empresa em decorrência dos panfletos com a pesquisa, com o seu resultado e com a convocação para a reunião. Mais tarde soubemos que o reflexo estendeu-se até a diretoria onde se discutiu a demissão dos “responsáveis”.

A pauta da reunião era prosseguir com o debate sobre a formação de uma associação, agora com a expectativa de um quorum bem superior aos das reuniões anteriores. E a reunião transcorria dentro do planejado: histórico das reuniões preliminares, possibilidades de encaminhamentos, dúvidas etc. Porém, aconteceu um momento mágico. Um dos colegas presentes, que nem fazia parte do grupo que vinha se reunindo até ali, um antigo, conhecido e respeitado empregado, de idade que era mais avançada que a nossa, cuja média ainda estava entre 30 e 35 anos, solicitou a palavra e com brevíssima exposição de motivos atropelou a pauta, afirmou que não devíamos perder tempo, e propôs que fundássemos ali, naquele momento, a nossa associação. Foi o que bastou. Uma gritaria e palmas tomou conta da sala aclamando a proposta que determinou o nascimento da Associação de Empregados da Embratel no Rio de Janeiro, batizada temporariamente como Associação de Funcionários.

A nossa associação já nasceu de um gesto de subversão da ordem, não pediu licença, e a sua história iria mostrar que foi bem nascida. Saímos da reunião orgulhosos. Era noite de segunda-feira, 09 de abril de 1984, data de aniversário de um dos nossos companheiros, militante desde as primeiras horas. Fomos para casa porque no dia seguinte, 10 de abril, outra tarefa importante nos aguardava: o comício das Diretas Já, na Candelária. A AEBT já se fez presente.

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