Crônicas de militante
Era
início da noite, eu e um companheiro fomos à Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro, na Praça XV, contatar alguns parlamentares para
a participação em atos públicos da Associação de Empregados da Embratel – AEBT
RJ. Na ocasião, alguns diretores estávamos punidos com suspensão de 15 dias em
decorrência conflitos com a diretoria da empresa sobre a política de Telecomunicações.
Ao
passarmos pelo salão nobre da Assembleia verificamos grande movimentação e
galerias cheias na expectativa de algum evento, e tomamos um susto porque as
galerias estavam ocupadas com trabalhadores uniformizados ostentando logotipos
e nomes de suas empresas: Correios, Cetel e Telerj. Não identificamos Embratel,
talvez porque esta não tivesse um uniforme oficial. A nossa surpresa aumentou
ao sabermos que o Ministro era aguardado e que receberia uma homenagem. Só
então nos demos conta que era a semana do dia 05 de maio – dia das Comunicações
– o que justificava a presença do Ministro. O ano era 1987.
Fizemos
contato imediato com a AEBT (não existia celular) na busca de alguns militantes
que estivessem por lá e que pudessem trazer faixas ou cartazes sobre os temas
de nosso interesse. Tentaríamos exibi-las durante o ato. Por sorte, alguns
colegas estavam por lá e se deslocaram imediatamente para a Praça XV. Ao mesmo
tempo, assessores do Ministro que nos viram buscando detalhes do evento
identificaram as nossas intenções. Assim, barraram a entrada dos colegas que
chegaram, e um dos assessores do Ministro cuidou de abordar a mim e ao meu
companheiro que estávamos no interior do prédio tentando convencer-nos da
impropriedade da nossa manifestação, justificando a proibição do acesso e
garantindo-nos uma entrevista direta e particular com o Ministro logo que o
evento terminasse.
Replicamos
que não era o nosso propósito uma conversa particular com o Ministro, que era
nosso direito participar do evento, etc. E também percebemos que o assessor queria ocupar o nosso tempo,
paralisando-nos com sua conversa, enquanto o ato transcorria sem tumultos.
Assim, demos um tchau para o tal assessor e insistimos em entrar, mas a barra
pesou. Com seguranças de todos os lados nem chegamos perto do Ministro.
Baixamos
a guarda, dissimulamos uma saída, mas nos postamos nas laterais da escadaria do
prédio por onde possivelmente haveria uma saída pomposa do Ministro que, de
fato, ocorreu. Quando o Ministro desceu
alguns degraus, levantamos nossas faixas e mesmo sem dispositivos de
amplificação de som começamos a discursar sobre os nossos protestos. A comitiva
do Ministro entrou em pânico, não sabiam para onde ir, um verdadeiro “barata voa”.
O
Ministro, vaidoso, achou que a agitação era parte das homenagens. Sem entender,
sorria para nós e fazia um meio aceno de simpatia, como políticos, reis e papas
costumam fazer das janelas dos palácios. Os seguranças não tinham
orientação porque os assessores ainda estavam explicando ao Ministro o que
estava ocorrendo. Os demais bajuladores estavam perdidos, queriam pular fora, mas
não podiam deixar o Ministro sozinho. Tudo isto sob as lentes dos fotógrafos
contratados para o evento.
O
Ministro foi retirado rapidamente para o seu carro e sumiu. O mesmo ocorreu com
os diretores das empresas, exceto um diretor ou gerente da Cetel que foi
esquecido, sem carro para sair do local e deixado no meio dos poucos militantes
e curiosos. Nós mesmos cuidamos de encaminhá-lo para um táxi ou seu próprio
carro que foi identificado logo depois.
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Este depoimento é incrível. Hilário. Com o toque final de encaminhamento do alto funcionário ao transporte devido, a cena ficou ainda mais engraçada e "elegante". Sucesso absoluto da ação de vocês, da associação da Embratel. Abrçs. Vera.
ResponderExcluirRindo aqui feito pateya na fila do banco, com as peripécias desses meus amigos lutadores.
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