segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nós que aqui ficamos por vós esperamos.

Crônicas de militante

Era início da noite, eu e um companheiro fomos à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, na Praça XV, contatar alguns parlamentares para a participação em atos públicos da Associação de Empregados da Embratel – AEBT RJ. Na ocasião, alguns diretores estávamos punidos com suspensão de 15 dias em decorrência conflitos com a diretoria da empresa sobre a política de Telecomunicações.

Ao passarmos pelo salão nobre da Assembleia verificamos grande movimentação e galerias cheias na expectativa de algum evento, e tomamos um susto porque as galerias estavam ocupadas com trabalhadores uniformizados ostentando logotipos e nomes de suas empresas: Correios, Cetel e Telerj. Não identificamos Embratel, talvez porque esta não tivesse um uniforme oficial. A nossa surpresa aumentou ao sabermos que o Ministro era aguardado e que receberia uma homenagem. Só então nos demos conta que era a semana do dia 05 de maio – dia das Comunicações – o que justificava a presença do Ministro. O ano era 1987.

Fizemos contato imediato com a AEBT (não existia celular) na busca de alguns militantes que estivessem por lá e que pudessem trazer faixas ou cartazes sobre os temas de nosso interesse. Tentaríamos exibi-las durante o ato. Por sorte, alguns colegas estavam por lá e se deslocaram imediatamente para a Praça XV. Ao mesmo tempo, assessores do Ministro que nos viram buscando detalhes do evento identificaram as nossas intenções. Assim, barraram a entrada dos colegas que chegaram, e um dos assessores do Ministro cuidou de abordar a mim e ao meu companheiro que estávamos no interior do prédio tentando convencer-nos da impropriedade da nossa manifestação, justificando a proibição do acesso e garantindo-nos uma entrevista direta e particular com o Ministro logo que o evento terminasse.

Replicamos que não era o nosso propósito uma conversa particular com o Ministro, que era nosso direito participar do evento, etc. E também percebemos  que o assessor queria ocupar o nosso tempo, paralisando-nos com sua conversa, enquanto o ato transcorria sem tumultos. Assim, demos um tchau para o tal assessor e insistimos em entrar, mas a barra pesou. Com seguranças de todos os lados nem chegamos perto do Ministro.

Baixamos a guarda, dissimulamos uma saída, mas nos postamos nas laterais da escadaria do prédio por onde possivelmente haveria uma saída pomposa do Ministro que, de fato, ocorreu.  Quando o Ministro desceu alguns degraus, levantamos nossas faixas e mesmo sem dispositivos de amplificação de som começamos a discursar sobre os nossos protestos. A comitiva do Ministro entrou em pânico, não sabiam para onde ir, um verdadeiro “barata  voa”.

O Ministro, vaidoso, achou que a agitação era parte das homenagens. Sem entender, sorria para nós e fazia um meio aceno de simpatia, como políticos, reis e papas costumam fazer das janelas dos palácios. Os seguranças não tinham orientação porque os assessores ainda estavam explicando ao Ministro o que estava ocorrendo. Os demais bajuladores estavam perdidos, queriam pular fora, mas não podiam deixar o Ministro sozinho. Tudo isto sob as lentes dos fotógrafos contratados para o evento.

O Ministro foi retirado rapidamente para o seu carro e sumiu. O mesmo ocorreu com os diretores das empresas, exceto um diretor ou gerente da Cetel que foi esquecido, sem carro para sair do local e deixado no meio dos poucos militantes e curiosos. Nós mesmos cuidamos de encaminhá-lo para um táxi ou seu próprio carro que foi identificado logo depois.

Saímos para comemorar o êxito e o aspecto peculiar da nossa manifestação não planejada, mas que foi um sucesso.

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2 comentários :

  1. Este depoimento é incrível. Hilário. Com o toque final de encaminhamento do alto funcionário ao transporte devido, a cena ficou ainda mais engraçada e "elegante". Sucesso absoluto da ação de vocês, da associação da Embratel. Abrçs. Vera.

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  2. Rindo aqui feito pateya na fila do banco, com as peripécias desses meus amigos lutadores.

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