Crônicas de militante
Os funcionários da Associação
de Empregados da Embratel ligaram
assustados para narrar o fato. Era horário de expediente na empresa e não havia
diretores presentes na sede da associação onde chegaram militares, bombeiros e
pessoal da Prefeitura. Queriam saber sobre uma “corda” que estava estendida
deste a janela da sala da AEBT RJ, no 17º. Andar do prédio em uma esquina da
Av. Presidente Vargas, e que atravessava metade da avenida.
A corda foi identificada
durante os voos rasantes de helicópteros que estavam sendo realizados,
sistematicamente, ao longo de toda a avenida ocupados com soldados
uniformizados e usando capuzes do tipo “ninja”, ostensivamente armados e,
naturalmente, ameaçadores. Os voos faziam parte das medidas e ações de
segurança que tomaram conta da cidade do Rio de Janeiro nas vésperas e durante
a ECO – 92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Com a visita de cerca de 120
chefes de estado e participação de 172 países, praticamente todos os dias autoridades
desfilavam pela Av. Presidente Vargas protegidas por um aparato de segurança
que incluía voos rasantes de helicópteros das três forças armadas. Rasantes
mesmo, pois os seus ocupantes podiam ser identificados por nós que
trabalhávamos em sétimo andar de prédio na calçada da avenida. Na mesma
calçada, mais adiante, na esquina, ficava a sala da sede da AEBT RJ de onde os
helicópteros identificaram a tal corda esticada, indevida e intrusa, justo no
seu caminho.
O
relato dos empregados da associação ressaltava o susto e o medo que sentiram ao
atenderem à porta e identificarem todo o aparato de visitantes querendo
explicações sobre a “corda” que evidentemente deveria ser retirada. Os
empregados nem se lembravam da tal “corda” e ficaram apavorados porque, com o
histórico de envolvimentos políticos da associação e seus militantes, eles (os
empregados) logo imaginaram que algo deveria ter sido aprontado, mesmo que eles
não soubessem nada sobre o assunto.
Verificou-se, então,
que a “corda” era apenas um fio de nylon, uma linha de pescar bem grossa, mas
cujo diâmetro não passava de três milímetros e que
fazia parte de uma simples, mas brilhante engenhoca elaborada por um companheiro e que nos permitia hastear bandeiras e faixas desde a janela da
associação até o topo de postes da avenida Pres. Vargas, atravessando uma das
faixas de rolamento da mesma. Seu primeiro uso foi com uma bandeira da CUT
durante a greve geral de 1989 e no mesmo ano içamos também uma faixa para o
comício final de Lula na campanha presidencial. O fio de nylon foi deixado lá, para
um uso futuro. Para nós ele era praticamente invisível, mas a neura de
segurança era tanta que os ninjas da ECO, sabe-se lá como, conseguiram
identificá-lo. Um peteleco teria sido o suficiente para cortá-lo, mas ele foi visto
como uma ameaça, como uma “corda”, bem na rota dos helicópteros.
O
telefonema que recebi foi apenas para informar o ocorrido, porque ninguém
cogitou sequer de pedir aos visitantes aguardassem para que os diretores da
associação fossem contatados. Ainda segundo o relato dos empregados, a equipe
que visitou a associação estava equipada com armas e machados, embora uma
pequena tesoura tenha resolvido o problema sem incidentes maiores e eliminou
aquele item que por algumas horas ameaçou a segurança e integridade dos chefes
de estado que visitaram o país.
Para
nós o caso foi cômico. Esquisito mesmo foi para o pessoal da Rocinha que ficou
sob a mira de canhões de tanques de guerra que se posicionaram apontados para a
comunidade, tudo em nome do sucesso daquele circo que se chamou ECO 92.
Será que eles enfrentaram truculentamente também os fios que atravessavam as ruas e que eram utilizados pelos "crentes" na amplificação de som nas praças naquela época?
ResponderExcluirha ha ha... bela história. Hoje o circo se repete com a polícia mandando bala nos manifestantes que vão para as ruas exercer seu direito legítimo de protesto e manifestação. Abração. Chap
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