segunda-feira, 22 de julho de 2013

Destaque sobre a espionagem eletrônica americana.

Opinião

Gaspar Vianna[i]
Com relação à espionagem eletrônica dos Estados Unidos, um ponto relevante que mereceria destaque é que, com a internacionalização e venda da EMBRATEL, o Brasil perdeu o seu  sistema de telecomunicações militares.  A EMBRATEL, idealizada pelos militares em 1962 e pelos militares incluída no Código Nacional de Telecomunicações (antes do golpe militar, portanto), só veio a ser criada em plena ditadura, para ser dirigida pelos militares.  
O Sistema Nacional de Telecomunicações foi constituído para interligar o País pelas telecomunicações, mas não podemos esquecer que dentro dele havia uma rede militar, um sistema que garantia comunicações militares, para utilização em tempos de paz, mas para ser acionado em casos de invasão estrangeira e outras necessidades ligadas ao que se chamava de Segurança Nacional.  Com o surgimento do primeiro satélite do sistema Embratel, alguns transponders foram reservados para utilização de nossas telecomunicações militares.  Se a maioria dos países do mundo desenvolvido tem um sistema de telecomunicações militares, o Brasil criou um sistema singular, engenhoso, hábil, no qual ao invés de gastar dinheiro exclusivamente para fins militares,  colocou este sistema dentro de uma empresa estatal, que servia a toda a população brasileira e que, em caso de necessidade, poderia ser utilizado em defesa do País. 
Por ocasião da luta contra a chamada privatização, e em defesa do sistema público de telecomunicações, procurei chamar atenção deste fato, especialmente com  os militares com quem pude conversar.  Eu costumava dizer que se poderia vender a TELEBRÁS, privatizar a telefonia celular e todas as empresas, mas não se poderia vender nunca a EMBRATEL porque ela era essencial no modelo criado para a existência de um sistema de telecomunicações militares, que sem a EMBRATEL na mão do Governo Brasileiro ficaríamos sem um sistema de interligação entre os quartéis e demais instalações militares, que iríamos entregar todo o nosso sistema de defesa nas mãos de empresas estrangeiras.  Qual a serventia de canhões, tanques, submarinos e quaisquer artefatos militares se não tivermos interligação entre eles? 
Não fomos felizes, perdemos.   Hoje  todos nós estamos com a distância histórica para perceber que a avalanche de notícias fabricadas pela mídia causou uma cegueira nacional na qual o bom senso foi inteiramente abandonado.  Não conhecemos a imprensa de Hitler, mas deve ter sido algo muito parecido. Então, a espionagem norte-americana, visto dentro deste contexto, passa a ser um alerta que certamente será esquecido daqui a alguns dias.




[i]Advogado, autor dos livros: Privatização das Telecomunicações  - Ed. Notrya – 1993 e Direito de Telecomunicações  - Ed. Rio – Sociedade Cultural Ltda. 1976

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