segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um verão carioca

Crônicas de militante

Quinhentos soldados PM, viaturas Patamo, dois blindados tipo Brucutu (avô do Caveirão), um blindado Urutu, além de dois batalhões do Nucoe (embrião do atual Bope). Conforme o Jornal do Brasil de 04/12/1987, este foi o aparato mobilizado no dia anterior para impedir que a passeata de abertura da nossa campanha salarial ocupasse a Av. Rio Branco onde estavam proibidas manifestações. Mesmo assim, seguimos pela Uruguaiana e lotamos a Cinelândia. E na semana seguinte, no dia nove de dezembro, embaixo de chuva, lotamos novamente aquela praça e fizemos uma assembleia que deliberou pela greve que teve fortíssima adesão. E foi no segundo dia da greve, em 11/12/1987 que a Embratel executou as nossas demissões.

O fato é que o  caso Vicom estava, desde outubro, entalado na garganta do ministro ACM  que queria cabeças. Já havia destituído a direção da Embratel porque não repeliu o movimento naquela empresa, e uma greve da categoria em campanha salarial, dois meses após, além de um desafio intolerável, foi uma oportunidade de revanche. Assim,  ele mandou demitir. “O ministro não volta atrás nem com Ave-Maria declarou a sua assessoria aos jornais.

Na noite do dia 10 de dezembro, logo após a assembleia de avaliação do primeiro dia da greve, soubemos que alguns de nós seríamos demitidos no dia seguinte. Fomos informados por gerentes que também participaram da greve Vicom e que deveriam, então, definir e executar as demissões. As contradições brotaram com todo vigor e a madrugada do dia dez para o dia onze foi difícil. Alguns gerentes buscaram justificativas para não demitir. Em alguns casos chegaram a telefonar para os faltosos convocando-os a se apresentarem na empresa, de qualquer jeito, mesmo durante a noite ou madrugada, apenas para assinalar a presença. Outros gerentes apenas obedeceram. Alguns colegas convocados queriam conversar sobre o que fazer. A orientação foi sensata: prejuízo mínimo, sem valentias ou heroísmos – assegurar o emprego era prioridade. E ainda na madrugada, também através de gerentes, ficamos sabendo sobre alguns dos empregados atingidos. A lista seria divulgada pela manhã.

A manhã do dia onze foi agitada. Após idas e vindas, consolidou-se o anúncio de oito demissões, uma das quais foi revertida em curto prazo porque se tratava de uma representante sindical. Havia demissões também na Telerj, na Cetel e nos Correios. Durante o dia realizamos manifestações na porta da empresa que logo foi ocupada com tropa de choque da PM. À noite haveria uma nova assembleia em frente à sede da Telerj localizada mais adiante, no número 2560 da Pres. Vargas. Mesmo assim a empresa acionou a polícia federal para “proteger” o prédio 1012 da Embratel de possíveis vandalismos dos seus empregados, os mesmos que paralisaram as atividades dois meses atrás em defesa da empresa, no caso Vicom. Os que estavam por perto se assustaram ao ver policiais federais armados de metralhadoras entrarem no saguão do prédio sede da Embratel, no Rio de Janeiro.

Mesmo sendo um domingo, dia 13/12, realizamos outra assembleia cheia, e na segunda-feira, 14/12/87, às 10 horas da manhã, a quantidade de trabalhadores na calçada da Telerj era tal que impedia o tráfego na Pres. Vargas. Cercados de cães e soldados, ambos raivosos, liberamos e lotamos arquibancadas do Sambódromo com bem mais de 3000 trabalhadores. A greve foi suspensa às 24 horas do dia 15/12/87 sob a promessa de abertura de negociações que só foram concluídas em janeiro de 88, mas sem reversão das demissões. Com o processo Constituinte em curso, incluímos a anistia dos demitidos na pauta de lutas junto ao Congresso, uma vitória conquistada em Outubro de 1988 e só efetivada em Julho de 1989.

Foi um dezembro quente. Noites de verão com muitos sonhos, mas nada parecido com a comédia de Shakespeare. Mobilização, lutas, perdas e vitórias. Crença nos sonhos e muito trabalho para a realização escrupulosa da fantasia, como apontou o camarada Lênin, em 1902.

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