Vizinhos
Em
frente à minha janela está o meu vizinho mais importante. Embora o seu nome
oficial seja Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, o que vale é o seu apelido: Aterro do Flamengo, e para os íntimos apenas
“Aterro”, apelido que ganhou por ser um parque construído em uma área de
1.200.000 m2 da baía de
Guanabara aterrada com o entulho retirado do desmanche de um morro próximo (Santo
Antonio) e com areia retirada do fundo da própria baía.
Nesta
cidade qualificada de maravilhosa porque a natureza não lhe poupou beleza, o
meu vizinho constitui possivelmente a mais expressiva beleza não natural do Rio
de Janeiro. É uma construção humana que se estende desde o aeroporto Santos
Dumont até a enseada de Botafogo, e inclui jardins, parques, quadras e pistas de
esportes, campos de futebol, quiosques, o Museu de Arte Moderna, a Marina da
Gloria, o Monumento aos Pracinhas, o Monumento ao fundador da cidade, Estácio
de Sá, o Museu Carmem Miranda, milhares de árvores, centenas de espécies de
plantas nativas e exóticas, cerca de 100 postes para iluminação com 45 metros
de altura cada. O Aterro resulta de um projeto urbanístico com uma interessante
história, e se transformou num
tesouro para os habitantes da cidade e seus visitantes. Ele é
bem servido por transporte público: ônibus. O acesso ao parque é livre, sem
grades, e a sua área para lazer é
ampliada aos domingos e feriados com o fechamento das duas faixas de rolagem
que integram o conjunto. Desconheço outro espaço da cidade que possa ser acessado, ocupado, usado, admirado e vivenciado com uma
deliciosa sensação de apropriação sem
exclusividade, com a sensação de se fazer parte sem ser “dono”. Usufruir
sem excluir o outro. As praias do Rio de Janeiro geram sensações similares, mas elas se incluem entre as
maravilhas naturais da cidade.
É
um prazer ver famílias das mais variadas origens socioeconômicas ocuparem os
seus espaços nos dias de folga e descanso, sem frescuras nem protocolos babacas
que caracterizam as apartações sociais. Acho até que os visitantes são poucos
se comparados com a capacidade de abrigo do Aterro. São raros os domingos sem as
corridas ou caminhadas nas pistas que margeiam os seus jardins. O “futebol dos garçons” que diariamente ocupa as
suas quadras nas madrugadas até o raiar do dia já virou tradição.
Meu
vizinho sofre ameaças à sua integridade. Não bastassem as insuficiências dos
serviços para a sua manutenção, volta e meia noticiam iniciativas visando a sua
exploração comercial com atividades que descaracterizariam o seu propósito de espaço
público. Já se falou em construção de shopping e até em circuito para corrida
de automóveis. Essas iniciativas foram inibidas, mas as recentes concessões
para o uso da marina da Gloria e os consequentes eventos programados e realizados
naquele espaço afirmam uma opção pela privatização do espaço público em vez da
universalização da sua ocupação. Seria um exagero de minha parte se as ameaças não
estivessem aí, latentes e nem sempre veladas. Afinal, foi no início deste 2015
que uma jornalista carioca, nacionalmente conhecida e considerada, propôs
descaradamente como medidas para solução de casos de violência nas praias, “... diminuir drasticamente a circulação das
linhas de ônibus e de Metro no fluxo Zona
Norte – Zona Sul ...” e “...
cobrar entradas nas praias de Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon ...”.
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Panorâmica do Aterro |
adorei
ResponderExcluirGostei muito! Além de informações importantes sobre o Parque do Flamengo, o autor faz denuncias igualmente importantes sobre o q se pretende ou se pretendeu fazer contra o parque.
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