Ele complementa a magnífica visão de outro vizinho,
o Aterro do Flamengo, e eu deveria tratá-lo por “baía de Guanabara”, mas um
fato cômico determinou a minha escolha. Logo que vim para a moradia atual
solicitei a transferência da minha linha telefônica fixa. A atendente da
operadora, que devia estar num Call Center em qualquer lugar do Brasil
diferente do Rio de Janeiro, insistia para que eu complementasse o meu endereço
(praia do Flamengo) com alguma outra referência, apesar de eu já ter informado
número do prédio, apto, bairro, CEP etc. Aporrinhado e de saco cheio, sugeri que
ela anotasse Oceano Atlântico, afinal a praia do Flamengo pertence ao mesmo. A
sugestão provocou um silêncio no outro lado da linha que eu deduzi decorrer da irritação
da atendente enquanto contava até dez para não mandar às favas eu e a minha
ironia. Passado o silêncio, ela completou o registro da solicitação sem mais
delongas. Porém, a minha surpresa foi enorme quando recebi a conta telefônica e
verifiquei que, como referência para o meu endereço, estava impresso “Oceano Atlântico”.
E tem sido assim, todos os meses, há anos, acreditem, ou não. A minha conta
telefônica deve ter pequena possibilidade de ser extraviada para qualquer um
dos outros três oceanos do planeta porque nela consta como referência para o
endereço praia do Flamengo, no Rio de Janeiro: Oceano Atlântico, e foi daí que
eu resolvi dar este tratamento ao meu vizinho, em vez de tratá-lo como “baía de
Guanabara”.
Oceano Atlântico
ou baía de Guanabara, o fato é que desfruto o privilegio dessa vizinhança. Da
janela contemplo aqui, em margem próxima, desde o aeroporto Santos Dumont, a
marina da Gloria, a praia do Flamengo, até os morros Cara de Cão e Pão de
Açúcar. Acolá, o litoral da distante Niterói, desde a Ponte, passando por suas
praias urbanas até a histórica fortaleza de Santa Cruz marca da consolidação do
poder imperial português. Entre as margens daqui e de lá o curiosíssimo forte
Tamandaré, na ilha da Laje, que parece uma enorme tartaruga encravada no meio
da baía de Guanabara e vigiando a sua entrada. O sobe e desce dos aviões passa
a impressão de suaves voos panorâmicos, e a incessante movimentação das embarcações
de grande porte parece um desfile ensaiado onde os veleiros e outras pequenas
embarcações realizam uma espécie de dança de vai e vem. Arrisco dizer que é uma
das mais belas paisagens do Rio de Janeiro. Não importa o horário ou as
condições climáticas, as visões são sempre espetaculares e surpreendentes.
Gosto de imaginar
os primeiros navegadores tentando identificar o que parecia ser a desembocadura
de um grande rio. Penso nas disputas entre portugueses e seus desafetos lutando
pela posse destes territórios, cagando e andando para os nativos obrigados a
incluir entre as suas próprias disputas aqueles novos e estranhos seres. Mas,
gosto também de pensar que um dia João Cândido e seus companheiros ocuparam essa
paisagem comandando as embarcações capturadas em sua revolta e subjugando com
os seus canhões o poder republicano e obrigando-o a abolir as punições com na
marinha com o uso da chibata. Caramba! Esse vizinho tem muita historia pra
contar.
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Oceano Atlântico e Aterro - Visão da janela |
Sensacional, Jorge!
ResponderExcluirDevidamente fofocado!
Abraços
Pablo
quero um Oceano Atlântico na minha conta de luz.
ResponderExcluirNão canso de ouvir essa história, agora posso ler a crônica. Muito bom
ResponderExcluirJorge, relendo a crônica, a questão: 4 anos depois, ainda continua essa menção? Mesmo com conta digital? Abração
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