Vizinhos
Trata-se de um vizinho importante, politicamente
importante. Afinal, ele foi o Palácio do Catete, sede do governo de 16
presidentes da República, desde 1897 até 1960 quando perdeu o seu status porque
a capital do país mudou para Brasília. Em 1970 passou a ser o Museu da
República, mas para muitos é o “Palácio do Getúlio”, uma referência ao
presidente que cometeu o suicídio em suas dependências. Conforme uma
pesquisadora do Museu: "Naquela
época, você não dizia 'a sede da Presidência', você dizia 'o Palácio do
Catete'. E depois de Getúlio virou o 'Palácio de Getúlio', até hoje. Se você
pega um táxi e pede para ir ao Museu da República é possível que ele não saiba,
mas se você disser 'o Palácio do Getúlio' ele sabe. Quer dizer, é uma
palavra-chave não porque é qualquer palácio, é porque esse palácio está colado
no imaginário da população e dos governantes também".
Este vizinho anda sempre
ocupado. Exposições permanentes e temporárias, seminários, serestas, feira de
livros, cinema, colônia de férias, biblioteca, lançamento de livros, saraus e eventos
artísticos diversos, além da disponibilidade do acervo do museu para consultas
e pesquisas. Em caráter permanente ficam expostas as dependências do palácio
que são memórias da história do Brasil, porém há uma exposição de longa duração
que recomendo como imperdível: “A Res publica
brasileira”. Organizada conforme etapas
políticas da nossa república, a exposição tem um caráter especial para aqueles
que tiveram a oportunidade de vivenciar a movimentação política no Brasil desde
o golpe de 64 até a Constituinte de 88.
Para a vizinhança a sua importância não se resume aos títulos
históricos. Ele é uma bela construção num terreno que ocupa quase a metade da nossa
quadra e que interliga as ruas do Catete e Praia do Flamengo. A sua área
externa, aberta permanentemente ao público, encanta pelos seus jardins
arborizados e pelos elementos de decoração que são um oásis no ambiente urbano,
especialmente nos dias de verão escaldante. Os visitantes, trabalhadores e
moradores da região vão e vem dos seus destinos ou apenas passeiam por ali,
descansando, namorando ou absorvidos em conversas ou leituras. É divertido observar
que alguns fazem caretas ou falam sozinhos enquanto meditam. Neste “palácio”, em
1914, Nair de Tefé, a esposa de um dos presidentes, promoveu uma recepção e
escandalizou a sociedade ao executar, ela própria, ao violão, a composição que
ficou conhecida como “Corta-jaca”, obra de outra mulher voluntariosa,
brasileira, mas marginalizada socialmente, a compositora, pianista e regente Chiquinha
Gonzaga. Um acinte que provocou a reação indignada do falastrão senador Ruy
Barbosa: “... a mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas
as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê
e do samba”. Essas besteiras foram
proferidas no mesmo ano do famoso discurso: “... de tanto ver triunfar as nulidades... prosperar a
desonra... blá, blá, blá...”.
Dizem que a sede do governo que antes era no palácio do Itamaraty,
lá próximo a Central do Brasil, mudou-se de lá para sair das proximidades dos
quartéis do exercito. História verdadeira, ou não, estou entre os que tentam imaginar como
seria a historia do país se a sede do governo ainda fosse aqui, nas barbas e ao
alcance da população. E só recentemente me dei conta que o tecido de forração
do meu sofá tem o mesmo padrão que o do pijama do Getúlio exposto no quarto em
que suicidou. Não sei se faço caretas ou falo sozinho enquanto penso essas
coisas!
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Museu da República - Fachada para a Rua do Catete Clique aqui e visite o Museu |
Museu da República - Jardim Meio da quadra, entre Rua do Catete e Aterro do Flamengo Clique aqui e visite o Jardim |
Museu da República - Jardim Ao fundo o Aterro do Flamengo - Lado oposto à fachada da rua do Catete |
Nair e Chiquinha Nair (esquerda): 1886 - 1981 - Chiquinha (direita): 1847 - 1935 |
O pijama do Getúlio |
Faltou a foto do teu sofá!!!
ResponderExcluirbjo
Junia
Bota o sofa....
ResponderExcluirCadê o sofá?
ResponderExcluirHa ha ha.
ResponderExcluirAgora sim!
PEDAÇO DO GETÚLIO
ResponderExcluirNão arquitetaria tramas, vitórias ou suicídios
Se por um segundo pousasse olhar
No verde múltiplo e escancarado dos jardins.
Não vacilaria em trocar o pijama agourento
Por trajes de borboleta.
E terminaria por flutuar como as semicolcheias e fusas
Atribuídas a delírios de ventos gnomos nas ramagens.
Dessilenciaria todas as lembranças nubladas de Chiquinha.