domingo, 5 de julho de 2015

Museu

Vizinhos

Trata-se de um vizinho importante, politicamente importante. Afinal, ele foi o Palácio do Catete, sede do governo de 16 presidentes da República, desde 1897 até 1960 quando perdeu o seu status porque a capital do país mudou para Brasília. Em 1970 passou a ser o Museu da República, mas para muitos é o “Palácio do Getúlio”, uma referência ao presidente que cometeu o suicídio em suas dependências. Conforme uma pesquisadora do Museu: "Naquela época, você não dizia 'a sede da Presidência', você dizia 'o Palácio do Catete'. E depois de Getúlio virou o 'Palácio de Getúlio', até hoje. Se você pega um táxi e pede para ir ao Museu da República é possível que ele não saiba, mas se você disser 'o Palácio do Getúlio' ele sabe. Quer dizer, é uma palavra-chave não porque é qualquer palácio, é porque esse palácio está colado no imaginário da população e dos governantes também".

Este vizinho anda sempre ocupado. Exposições permanentes e temporárias, seminários, serestas, feira de livros, cinema, colônia de férias, biblioteca, lançamento de livros, saraus e eventos artísticos diversos, além da disponibilidade do acervo do museu para consultas e pesquisas. Em caráter permanente ficam expostas as dependências do palácio que são memórias da história do Brasil, porém há uma exposição de longa duração que recomendo como imperdível: “A Res publica brasileira”. Organizada conforme etapas políticas da nossa república, a exposição tem um caráter especial para aqueles que tiveram a oportunidade de vivenciar a movimentação política no Brasil desde o golpe de 64 até a Constituinte de 88.

Para a vizinhança a sua importância não se resume aos títulos históricos. Ele é uma bela construção num terreno que ocupa quase a metade da nossa quadra e que interliga as ruas do Catete e Praia do Flamengo. A sua área externa, aberta permanentemente ao público, encanta pelos seus jardins arborizados e pelos elementos de decoração que são um oásis no ambiente urbano, especialmente nos dias de verão escaldante. Os visitantes, trabalhadores e moradores da região vão e vem dos seus destinos ou apenas passeiam por ali, descansando, namorando ou absorvidos em conversas ou leituras. É divertido observar que alguns fazem caretas ou falam sozinhos enquanto meditam. Neste “palácio”, em 1914, Nair de Tefé, a esposa de um dos presidentes, promoveu uma recepção e escandalizou a sociedade ao executar, ela própria, ao violão, a composição que ficou conhecida como “Corta-jaca”, obra de outra mulher voluntariosa, brasileira, mas marginalizada socialmente, a compositora, pianista e regente Chiquinha Gonzaga. Um acinte que provocou a reação indignada do falastrão senador Ruy Barbosa: “... a mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba”. Essas besteiras foram proferidas no mesmo ano do famoso discurso: “... de tanto ver triunfar as nulidades... prosperar a desonra... blá, blá, blá...”.


Dizem que a sede do governo que antes era no palácio do Itamaraty, lá próximo a Central do Brasil, mudou-se de lá para sair das proximidades dos quartéis do exercito. História verdadeira, ou não,  estou entre os que tentam imaginar como seria a historia do país se a sede do governo ainda fosse aqui, nas barbas e ao alcance da população. E só recentemente me dei conta que o tecido de forração do meu sofá tem o mesmo padrão que o do pijama do Getúlio exposto no quarto em que suicidou. Não sei se faço caretas ou falo sozinho enquanto penso essas coisas!
######
Museu da República - Fachada para a Rua do Catete

Clique aqui e visite o Museu


Museu da República - Jardim
Meio da quadra, entre Rua do Catete e Aterro do Flamengo
Clique aqui e visite o Jardim

Museu da República - Jardim
Ao fundo o Aterro do Flamengo - Lado oposto à fachada da rua do Catete

Nair e Chiquinha
Nair (esquerda): 1886 - 1981    -   Chiquinha (direita): 1847 - 1935

O pijama do Getúlio
Meu sofá e o pijama do Getúlio

5 comentários :

  1. Faltou a foto do teu sofá!!!
    bjo
    Junia

    ResponderExcluir
  2. PEDAÇO DO GETÚLIO

    Não arquitetaria tramas, vitórias ou suicídios
    Se por um segundo pousasse olhar
    No verde múltiplo e escancarado dos jardins.

    Não vacilaria em trocar o pijama agourento
    Por trajes de borboleta.

    E terminaria por flutuar como as semicolcheias e fusas
    Atribuídas a delírios de ventos gnomos nas ramagens.

    Dessilenciaria todas as lembranças nubladas de Chiquinha.

    ResponderExcluir