Vizinhos
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Eu é que não tinha coragem de entrar aí, de noite, nesse castelo assombrado!
Essa exclamação recebeu como resposta uma
risada nervosa e um comentário que não consegui ouvir. Eram duas senhoras de
aparências humildes que passavam em frente ao meu vizinho, um prédio imponente
de 12 andares na esquina da ruas Ferreira Viana e Praia do Flamengo, quadra
onde moro, uma construção que é uma
referência na cidade do Rio de Janeiro.
O edifício Flamengo nasceu como edifício Seabra, e é
uma das belas construções da Praia do Flamengo. Ele
também tem um apelido: Dakota. A origem do apelido se deve a sua aparência
externa que tem um jeitão parecido com o do famoso prédio Dakota, de Nova York,
onde morou o ex-Beatle John Lennon assassinado na portaria do prédio. O Dakota
carioca é descrito como tendo uma luxuosa construção interna, mas destaca-se entre os demais pela beleza de sua arquitetura externa. É uma
estrutura em blocos de pedra escuros, e as suas portarias não são transparentes
como a maioria dos demais prédios. Elas são portões de ferro decorados com
grades e vidros que, além da proteção física, dificultam a devassa do interior
pelos olhares dos transeuntes. Quem passa próximo aos seus portões, durante a
noite ou dia, pode apenas vislumbrar em penumbra os seus amplos corredores decorados
(de gosto até duvidoso) e com uma
iluminação colorida e de baixa potência. O conjunto compõe uma visão que faz o
prédio parecer com as caricaturas de castelos assombrados, justificando o medo
das senhoras que passaram em frente ao mesmo.
Para o meu gosto a construção é bonita e
impactante, mas ela é também um símbolo
de concentração da riqueza. Construído em 1931, data anterior à construção do
Aterro do Flamengo, o seu proprietário original foi um milionário português, um
comendador, de sobrenome Seabra (nome do
prédio) que reservou para sua moradia os três últimos andares, um triplex com
cerca de 2400 metros quadrados com portarias e elevadores privativos. Uma
concentração de riqueza que ainda se exibe porque, apesar de tombado, o prédio é uma propriedade privada e o
triplex do "comendador" foi
negociado recentemente, há cerca de dois
anos, estando ainda em reformas.
O Seabra não é o maior símbolo de
concentração de riqueza no Rio de Janeiro e nem deve ser o mais representativo
da Praia do Flamengo. E neste aspecto deve estar bem longe do Dakota americano.
Mas, aqui ou em Nova York, a realidade é que nenhum homem ou grupo de
proprietários trabalhou o suficiente em seu tempo de vida para produzir e
acumular tanta grana. Trata-se da expropriação do trabalho de outros, de muita
gente, como é a prática do sistema de
produção em que vivemos. O Dakota americano ganhou fama de maldito e assombrado antes da morte do Lennon, desde
quando foi local de gravação do filme "Bebê
de Rosemary" , um ícone do cinema de suspense e terror. Quem sabe
no caso do Seabra algum fenômeno sobrenatural seja a explicação para tanto
dinheiro nas mãos de tão pouca gente. Mas, será uma explicação diabólica.
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Edifício Flamengo (Seabra) - O Dakota carioca |
SEABRA
ResponderExcluirFantasmas não percorrem laminados
Em salas claras, livres de teias, pó e negrume.
Não há assombramentos
Sob sol e sal tropicais fustigando conchas e desejos à beira-mar.
Espectros não são talhados para utilidades.
Fantasmas acometem solidões.
Quem paga a preocupação constante, a falta de horário para trabalhar por 18 h ou mais ? Como liderar sem exercer essa função ? Como confiar quando se está no topo e não há "salvaguardas" ? Vê-se logo que a concepção comunista de um negócio ou empresa, seja loja ou indústria está fadado ao fracasso e a falência.
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