quarta-feira, 1 de julho de 2015

Seabra

Vizinhos

- Eu é que não tinha coragem de entrar aí, de noite, nesse castelo assombrado!
Essa exclamação recebeu como resposta uma risada nervosa e um comentário que não consegui ouvir. Eram duas senhoras de aparências humildes que passavam em frente ao meu vizinho, um prédio imponente de 12 andares na esquina da ruas Ferreira Viana e Praia do Flamengo, quadra onde moro,  uma construção que é uma referência na cidade do Rio de Janeiro.
O edifício Flamengo nasceu como edifício Seabra, e é uma das belas construções da Praia do Flamengo. Ele também tem um apelido: Dakota. A origem do apelido se deve a sua aparência externa que tem um jeitão parecido com o do famoso prédio Dakota, de Nova York, onde morou o ex-Beatle John Lennon assassinado na portaria do prédio. O Dakota carioca é descrito como tendo uma luxuosa construção interna, mas destaca-se entre os demais pela beleza de sua arquitetura externa. É uma estrutura em blocos de pedra escuros, e as suas portarias não são transparentes como a maioria dos demais prédios. Elas são portões de ferro decorados com grades e vidros que, além da proteção física, dificultam a devassa do interior pelos olhares dos transeuntes. Quem passa próximo aos seus portões, durante a noite ou dia, pode apenas vislumbrar em penumbra os seus amplos corredores decorados (de gosto até duvidoso)  e com uma iluminação colorida e de baixa potência. O conjunto compõe uma visão que faz o prédio parecer com as caricaturas de castelos assombrados, justificando o medo das senhoras que passaram em frente ao mesmo.
Para o meu gosto a construção é bonita e impactante, mas  ela é também um símbolo de concentração da riqueza. Construído em 1931, data anterior à construção do Aterro do Flamengo, o seu proprietário original foi um milionário português, um comendador,  de sobrenome Seabra (nome do prédio) que reservou para sua moradia os três últimos andares, um triplex com cerca de 2400 metros quadrados com portarias e elevadores privativos. Uma concentração de riqueza que ainda se exibe porque, apesar de tombado,  o prédio é uma propriedade privada e o triplex do "comendador"  foi negociado recentemente,  há cerca de dois anos,  estando ainda em reformas.
O Seabra não é o maior símbolo de concentração de riqueza no Rio de Janeiro e nem deve ser o mais representativo da Praia do Flamengo. E neste aspecto deve estar bem longe do Dakota americano. Mas, aqui ou em Nova York, a realidade é que nenhum homem ou grupo de proprietários trabalhou o suficiente em seu tempo de vida para produzir e acumular tanta grana. Trata-se da expropriação do trabalho de outros, de muita gente, como é  a prática do sistema de produção em que vivemos. O Dakota americano ganhou fama de maldito e  assombrado antes da morte do Lennon, desde quando foi local de gravação do filme "Bebê de Rosemary" , um ícone do cinema de suspense e terror. Quem sabe no caso do Seabra algum fenômeno sobrenatural seja a explicação para tanto dinheiro nas mãos de tão pouca gente. Mas, será uma explicação diabólica.
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Edifício Flamengo (Seabra) - O Dakota carioca


Interior do Seabra
Dakota original - americano

2 comentários :

  1. SEABRA

    Fantasmas não percorrem laminados
    Em salas claras, livres de teias, pó e negrume.

    Não há assombramentos
    Sob sol e sal tropicais fustigando conchas e desejos à beira-mar.

    Espectros não são talhados para utilidades.

    Fantasmas acometem solidões.

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  2. Quem paga a preocupação constante, a falta de horário para trabalhar por 18 h ou mais ? Como liderar sem exercer essa função ? Como confiar quando se está no topo e não há "salvaguardas" ? Vê-se logo que a concepção comunista de um negócio ou empresa, seja loja ou indústria está fadado ao fracasso e a falência.

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