Opinião
Recebi o que seria a cópia de uma
mensagem endereçada ao “povo do Rio de Janeiro” onde estavam relacionados cerca
de dez hospitais da cidade e arredores, além de citar genericamente as UPAs.
Após o nome da cada hospital havia a expressão “FECHADO”.
A mensagem dizia que o “povo” do
Rio de Janeiro não devia reclamar porque “vocês”, dizia o texto “lotaram o
Maracanã, ... foram assistir aos jogos Olímpicos, ... festejaram o Réveillon em
Copacabana e ... irão lotar a Sapucaí”. Concluía ironizando que “tudo estava na mais
perfeita ordem” e pedia aos leitores que repassassem a mensagem para as pessoas
do Rio de Janeiro.
Esse tipo de mensagem é
recorrente e revela um autoritarismo que já seria bastante para
desconsiderá-la. Alguém cujo voto foi vencido, não importa a sua opção
política, volta-se raivosamente contra os que votaram na candidatura vitoriosa,
desqualificando o voto do outro que teria votado “errado”. Ainda raivosamente, tal e qual o personagem
imortal do humorista Chico Anísio, “Bento
Carneiro, o Vampiro Brasileiro”, o autor roga uma praga, lança uma “mardição”
para os eleitores. Vocês vão ver!
No caso específico eu também gostaria
que o resultado eleitoral fosse outro. Mas, não dá para bancar o Calunga, fiel
escudeiro de Bento Carneiro. Esse tipo de atitude anda de braços dados com as
ações golpistas. As pessoas vão ao Maracanã, ao Museu do Amanhã, ao Réveillon
em Copacabana e à Sapucaí porque são festas bonitas, trazem felicidade para elas e, afinal de contas,
foram construídas com o dinheiro delas. Bom seria que outras fontes de
felicidade também existissem ou funcionassem, por exemplo, as unidades
hospitalares que estão fechadas em decorrência de roubo da coisa pública.
Embora algumas pessoas, que refletiram
e fizeram conexões entre as situações, protestem em favor de uma, boicotando os
eventos associados à outra, o que é um procedimento correto, uma ação política
positiva e que deveria ser frequente, apontar as pessoas que ainda não
atingiram esse amadurecimento político como culpadas porque os seus candidatos
não cumpriram as suas promessas não faz sentido. É um comportamento medíocre e tacanho.
Ninguém vota nem escolhe o seu
candidato pensando “votarei nesse porque
ele vai me fuder!”. Também não conheço qualquer candidato que se apresente
dizendo “vote em mim porque eu vou botar
no seu cú!”.
As pessoas votam pensando que estão
fazendo a melhor escolha para si naquele momento. Há uma minoria que distingue com
clareza as candidaturas e que vota mesmo sabendo que suas propostas são
enganosas e que não contemplarão o desejo da maioria dos eleitores. Porém,
todas votam buscando o melhor para si, e a maioria vota acreditando nas
mensagens que receberam dos candidatos e nas conclusões que tiraram. Se elas
são vítimas de propagandas enganosas de candidaturas canalhas é outro caso.
Pensar que uma população inteira
votou sabendo que seria enganada é uma presunção. Uma arrogância babaca de quem
acha que todos estão errados e malucos, só ele tem razão e discernimento. Quem faz
essa avaliação é o mesmo fulano que diante de um roubo, um furto, reage apontando
a vítima como culpada porque deixou a bolsa aberta ou a carteira dando sopa. Posso
estar enganado, mas geralmente são covardes que fogem da responsabilidade de acusar
diretamente o ladrão.
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