quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Nas arenas do ZAP

Opinião

Não é novidade que o tratamento de opiniões políticas em grupos zap-zap impacta as relações entre os participantes. Quando o grupo não replica relações de amizade a preocupação com tais impactos é secundária. Participar, ficar ou sair do grupo é questão de conveniência. Porém, quando há amizades entre os participantes, a preocupação é relevante e saudável porque demonstra uma valorização das relações interpessoais e o desejo de conservá-las.

Cuidando de preservar relações que valorizo, aproveitei as tradicionais reavaliações de fim de ano pensando mais sobre esse assunto. Desliguei-me temporariamente de alguns grupos permanecendo apenas naqueles cujas propostas iniciais era de fins específicos, e outros de duração limitada. Foi uma boa decisão, mas a regra temporária, embora interessante, é de aplicação bem restrita e não contempla a realidade.

É ingenuidade imaginar que possamos nos representar com duas identidades, ou supor que basta a razão para ficarmos impermeáveis aos debates, como se tivéssemos carcaças isolando o nosso “eu” político dos outros “eus” que nos constituem. Não somos assim. Sinto-me afetado quando uma manifestação de opinião agride valores que me são caros, assim como sinto constrangimentos ao emitir juízo negativo ou criticar aspectos que são valorizados pelo outro cuja relação de amizade eu considero. Por outro lado, tentar fazer de qualquer grupo zap-zap um ambiente incompleto retirando a sua dimensão política é deformá-lo habitando-o com personagens fictícios, avatares de nós mesmos, desprovidos de crítica, de valores e de princípios políticos.

Sempre haverá a opção de saída de um grupo alardeando incompatibilidades, mas isso significaria contar que nos encontros pessoais todos se comportarão também como avatares sem personalidades políticas. Seria assumir imaturidade e abrir mão de tratar, até radicalmente, se necessário for, os conflitos entre as nossas opiniões e valores.

Eu prefiro apostar na maturidade como provedora da razão que sustentará a amizade se essa for realmente franca e consistente. Isto, sim, armará os participantes dos grupos com sensibilidade bastante para tratar os conflitos e para aparar e superar os eventuais excessos.

Não acho absurdo que participantes dos grupos zap-zap não sejam companheiros em algumas lutas e que tenham divergências sobre os assuntos tratados ali. Quem sabe, serão companheiros em outras lutas e terão opiniões convergentes em outros temas. Particularmente nas questões atuais pode ser que existam opiniões e desejos de desdobramentos visceralmente antagônicos, mas se houver efetivamente relações de amizades, haverá a vontade de encontros e de conversas, mesmo para tratar abobrinhas, quem sabe embaladas com músicas e cantorias, com consumo de quitutes gastronômicos, umas boas cachaças, cervejas e outras motivações de prazeres. Se não for assim, a relação de amizade, qualquer que seja a sua idade, ainda será incompleta, inconsistente, uma relação que não resiste à revelação de novas características dos parceiros o que também é uma possibilidade, desagradável de se constatar, mas uma possibilidade real. Aí a relação se esvai.

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