Opinião
Não é novidade que
o tratamento de opiniões políticas em grupos zap-zap impacta as relações entre
os participantes. Quando o grupo não replica relações de amizade a preocupação
com tais impactos é secundária. Participar, ficar ou sair do grupo é questão de
conveniência. Porém, quando há amizades entre os participantes, a preocupação é
relevante e saudável porque demonstra uma valorização das relações
interpessoais e o desejo de conservá-las.
Cuidando de
preservar relações que valorizo, aproveitei as tradicionais reavaliações de fim
de ano pensando mais sobre esse assunto. Desliguei-me temporariamente de alguns
grupos permanecendo apenas naqueles cujas propostas iniciais era de fins
específicos, e outros de duração limitada. Foi uma boa decisão, mas a regra temporária,
embora interessante, é de aplicação bem restrita e não contempla a realidade.
É ingenuidade
imaginar que possamos nos representar com duas identidades, ou supor que basta
a razão para ficarmos impermeáveis aos debates, como se tivéssemos carcaças
isolando o nosso “eu” político dos outros “eus” que nos constituem. Não somos
assim. Sinto-me afetado quando uma manifestação de opinião agride valores que
me são caros, assim como sinto constrangimentos ao emitir juízo negativo ou criticar aspectos que são valorizados pelo outro cuja relação de amizade eu
considero. Por outro lado, tentar fazer de qualquer grupo zap-zap um ambiente
incompleto retirando a sua dimensão política é deformá-lo habitando-o com
personagens fictícios, avatares de nós mesmos, desprovidos de crítica, de
valores e de princípios políticos.
Sempre haverá a
opção de saída de um grupo alardeando incompatibilidades, mas isso significaria
contar que nos encontros pessoais todos se comportarão também como avatares sem
personalidades políticas. Seria assumir imaturidade e abrir mão de tratar, até
radicalmente, se necessário for, os conflitos entre as nossas opiniões e
valores.
Eu prefiro apostar
na maturidade como provedora da razão que sustentará a amizade se essa for
realmente franca e consistente. Isto, sim, armará os participantes dos grupos
com sensibilidade bastante para tratar os conflitos e para aparar e superar os
eventuais excessos.
Não acho absurdo
que participantes dos grupos zap-zap não sejam companheiros em algumas lutas e que
tenham divergências sobre os assuntos tratados ali. Quem sabe, serão
companheiros em outras lutas e terão opiniões convergentes em outros temas.
Particularmente nas questões atuais pode ser que existam opiniões e desejos de
desdobramentos visceralmente antagônicos, mas se houver efetivamente relações
de amizades, haverá a vontade de encontros e de conversas, mesmo para tratar
abobrinhas, quem sabe embaladas com músicas e cantorias, com consumo de quitutes
gastronômicos, umas boas cachaças, cervejas e outras motivações de prazeres. Se
não for assim, a relação de amizade, qualquer que seja a sua idade, ainda será
incompleta, inconsistente, uma relação que não resiste à revelação de novas
características dos parceiros o que também é uma possibilidade, desagradável de
se constatar, mas uma possibilidade real. Aí a relação se esvai.
######
Nenhum comentário:
Postar um comentário