Opinião
A semana de 22 a 26 de novembro é período de celebrar o
meu principal herói nacional, o marinheiro João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata que determinou o fim dos castigos físicos na
Marinha brasileira. Um herói de 1910 que só foi anistiado postumamente, em
2008. Já fiz alguns registros em sua homenagem, mas a sua memória merece muito
mais. Esse registro é mais uma que lhe rendo. No dia 25, próximo, cruzarei as águas da Guanabara
para encontrar amigos e celebrarei também os feitos do mestre-sala dos mares.
Mas, vale também lembrar outro herói, o jornalista Edmar
Morel, talvez o primeiro a registrar com rigor e valorizar a história do marinheiro que foi
renegado pela Marinha que ele tanto amava. Foi Morel com seu livro, cuja
primeira edição foi de 1959, quem deu origem à expressão Revolta da Chibata nome
pelo qual ficou conhecido um dos mais importantes fatos históricos do nosso
país. Como homenagem a João Cândido, copiei um trecho da primeira edição, de um
exemplar surrado e de capas rasgadas que ganhei de um falecido, mas
inesquecível amigo.
“... A noite de 22 novembro de 1910 foi
marcada por deslumbrante recepção ao novo Presidente da República, Marechal
Hermes da Fonseca, no Clube da Tijuca, enquanto João Laje, um dos maiorais de O Paiz, em sua residência, no bairro de
botafogo, oferecia um jantar aos oficiais do Adamastor.
O Marechal, ao lado de todo o Ministério,
ouvia a ópera “Tannhauser”, de Wagner, quando um tiro de canhão sacudiu a
cidade. Cinco minutos depois um outro estampido ecoou pelo Rio. Vidraças,
agora, eram quebradas em Copacabana e no Centro.
O Presidente da República foi informado que a
Marinha estava revoltada. A princípio, na natural confusão criada nesses
momentos, atribuíram a chefia do levante ao Almirante Alexandrino de Alencar,
que oito dias antes deixara de ser Ministro da Marinha. Soube-se, porém, que ele
viajava para a Europa, no transatlântico italiano “Principessa Mafalda”, que
anos depois, nas costas da Bahia, naufragou, alta madrugada, arrastando à morte
mais de seiscentas pessoas.
A sublevação, na verdade, fora arquitetada
nos estaleiros da Armstrong, onde a João Cândido e outros cabeças do motim
foram dadas hábeis e proveitosas lições de navegação.
...
João Cândido era o chefe supremo da
insurreição, sendo o primeiro marinheiro no mundo, a comandar uma Esquadra. Foi
um comandante diferente. Não usou a farda de Almirante, preferindo o seu
uniforme branco de praça de pré, meio rasgado pelo tempo. Apenas, como
distintivo, um lenço de sêda vermelho ao pescoço, um apito e uma velha espada
de abordagem.”
[copiado de Morel, Edmar - A revolta da Chibata – Irmãos PONGETTI Editores, 1959 – RJ - mantidas pontuação e grafia da Edição)
Ver
também:
Atualmente existem diversas publicações (e de vários tipos) sobre a Revolta da Chibata. Para quem se interessar eu recomento a quinta edição do livro de Edmar Morel, que foi organizada por Marco Morel (Doutor em História pela Universidade de Paris, professor da UERJ e neto do jornalista) e publicada pela Paz e Terra em 2010, uma edição comemorativa do cinquentenário da publicação da primeira edição. Essa edição conta com uma interessante apresentação do organizador, Marco Morel, um prefácio à terceira edição do jurista Evaristo de Morais Filho (1914 - 2016) além de capítulos e anexos complementares à obra original de Edmar Morel.
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