quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Esses heróis não morreram de overdose

Opinião

A semana de 22 a 26 de novembro é período de celebrar o meu principal herói nacional, o marinheiro João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata que determinou o fim dos castigos físicos na Marinha brasileira. Um herói de 1910 que só foi anistiado postumamente, em 2008. Já fiz alguns registros em sua homenagem, mas a sua memória merece muito mais. Esse registro é mais uma que lhe rendo. No dia 25, próximo, cruzarei as águas da Guanabara para encontrar amigos e celebrarei também os feitos do mestre-sala dos mares.
Mas, vale também lembrar outro herói, o jornalista Edmar Morel, talvez o primeiro a registrar com rigor e valorizar a história do marinheiro que foi renegado pela Marinha que ele tanto amava. Foi Morel com seu livro, cuja primeira edição foi de 1959, quem deu origem à expressão Revolta da Chibata nome pelo qual ficou conhecido um dos mais importantes fatos históricos do nosso país. Como homenagem a João Cândido, copiei um trecho da primeira edição, de um exemplar surrado e de capas rasgadas que ganhei de um falecido, mas inesquecível amigo.

“... A noite de 22 novembro de 1910 foi marcada por deslumbrante recepção ao novo Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, no Clube da Tijuca, enquanto João Laje, um dos maiorais de O Paiz, em sua residência, no bairro de botafogo, oferecia um jantar aos oficiais do Adamastor.
O Marechal, ao lado de todo o Ministério, ouvia a ópera “Tannhauser”, de Wagner, quando um tiro de canhão sacudiu a cidade. Cinco minutos depois um outro estampido ecoou pelo Rio. Vidraças, agora, eram quebradas em Copacabana e no Centro.
O Presidente da República foi informado que a Marinha estava revoltada. A princípio, na natural confusão criada nesses momentos, atribuíram a chefia do levante ao Almirante Alexandrino de Alencar, que oito dias antes deixara de ser Ministro da Marinha. Soube-se, porém, que ele viajava para a Europa, no transatlântico italiano “Principessa Mafalda”, que anos depois, nas costas da Bahia, naufragou, alta madrugada, arrastando à morte mais de seiscentas pessoas.
A sublevação, na verdade, fora arquitetada nos estaleiros da Armstrong, onde a João Cândido e outros cabeças do motim foram dadas hábeis e proveitosas lições de navegação.
... 
João Cândido era o chefe supremo da insurreição, sendo o primeiro marinheiro no mundo, a comandar uma Esquadra. Foi um comandante diferente. Não usou a farda de Almirante, preferindo o seu uniforme branco de praça de pré, meio rasgado pelo tempo. Apenas, como distintivo, um lenço de sêda vermelho ao pescoço, um apito e uma velha espada de abordagem.”

[copiado de Morel, Edmar - A revolta da Chibata – Irmãos PONGETTI Editores, 1959 – RJ - mantidas pontuação e grafia da Edição)

Ver também:

Atualmente existem diversas publicações (e de vários tipos) sobre a Revolta da Chibata. Para quem se interessar eu recomento a quinta edição do livro de Edmar Morel, que foi organizada por Marco Morel (Doutor em História pela Universidade de Paris, professor da UERJ e neto do jornalista) e publicada pela Paz e Terra em 2010, uma edição comemorativa do cinquentenário da publicação da primeira edição. Essa edição conta com uma interessante apresentação do organizador, Marco Morel, um prefácio à terceira edição do jurista Evaristo de Morais Filho (1914 - 2016) além de capítulos e anexos complementares à obra original de Edmar Morel.

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