Opinião
Não nos enganemos - a anunciada intervenção na segurança do
Rio decorre determinantemente das manifestações contra o governo Temer e o seu grupo
no poder realizadas pela população durante o carnaval em praticamente toda a
cidade, no Aeroporto Santos Dumont e carimbadas com um "não"
definitivo nos desfiles do sambódromo. É esse potencial de manifestação
política, que pode se alastrar como um rastilho de pólvora por todo o país, o
catalisador das medidas de intervenção. Será um equívoco achar que as medidas
federais decorrem, especialmente, de uma reação aos arrastões nas praias e às
balas perdidas e de uma preocupação com a segurança pública. Trata-se, isto sim, de uma autoproteção, uma camisinha política
do governo Temer tentando prevenir uma intervenção no seu próprio governo.
O Estado do Rio e a cidade do Rio de Janeiro vivem
um caos político e administrativo - isso é um fato. Mas, também é o Rio de
Janeiro que - a i n d a - funciona como caixa de repercussão de manifestações
políticas. Seria presunção apontar uma causa inicial e exclusiva para um
movimento que está em redemoinho, mas não há como desconsiderar que a cidade do
Rio de Janeiro vive um potencial de rebelião social e que são as manifestações
contra a ordem federal que estão determinando algumas ações, pelo menos as
anunciadas.
Crivella não abandonou fisicamente a cidade por
burrice, convicção religiosa ou incompetência política. Ele tem uma poderosa
força política demonstrada com a sua própria eleição e resguarda-se, como também tenta
fazer o seu antecessor, Eduardo Paes. O PMDB, por sua vez, tem dificuldades em
sua representação política no Rio. Seu quadro carioca de expressão em Brasília é o gato angorá, Moreira Franco. O governador
Pezão é o que é (ou não é) e o vice-governador Francisco Dornelles já não
existe na prática. Os demais quadros partidários são políticos locais,
municipais, sem expressão na cúpula nacional do partido. Restaria um quadro aliado
mais próximo, de outro partido, o Roberto Jefferson, imobilizado para esse tipo
de função. Outros companheiros da aventura golpista do PMDB seriam os
relacionados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maias, mas os eventos recentes
sugerem que esses atiçam lenha na fogueira do Fora Temer!
Sem quadros de representação política e ameaçado por um abalo na ordem pública, o grupo golpista faz de tudo para garantir o seu projeto, até porque o PMDB já superou há bastante tempo os constrangimentos de realizar uma intervenção em uma unidade federativa que ele mesmo governa.
Nesse cenário, não é
absurdo esperar as ações anunciadas apontem, na prática, contra as
manifestações políticas. Quem tiver a expectativa de uma repressão à
criminalidade urbana que tire o seu cavalinho da chuva, que guarde as suas carteiras
e que torça para não ser premiado com uma bala perdida.
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