sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Sobre a anunciada intervenção na segurança do Rio

Opinião

Não nos enganemos - a anunciada intervenção na segurança do Rio decorre determinantemente das manifestações contra o governo Temer e o seu grupo no poder realizadas pela população durante o carnaval em praticamente toda a cidade, no Aeroporto Santos Dumont e carimbadas com um "não" definitivo nos desfiles do sambódromo. É esse potencial de manifestação política, que pode se alastrar como um rastilho de pólvora por todo o país, o catalisador das medidas de intervenção. Será um equívoco achar que as medidas federais decorrem, especialmente, de uma reação aos arrastões nas praias e às balas perdidas e de uma preocupação com a segurança pública. Trata-se, isto sim, de uma autoproteção, uma camisinha política do governo Temer tentando prevenir uma intervenção no seu próprio governo.

O Estado do Rio e a cidade do Rio de Janeiro vivem um caos político e administrativo - isso é um fato. Mas, também é o Rio de Janeiro que - a i n d a - funciona como caixa de repercussão de manifestações políticas. Seria presunção apontar uma causa inicial e exclusiva para um movimento que está em redemoinho, mas não há como desconsiderar que a cidade do Rio de Janeiro vive um potencial de rebelião social e que são as manifestações contra a ordem federal que estão determinando algumas ações, pelo menos as anunciadas.

Crivella não abandonou fisicamente a cidade por burrice, convicção religiosa ou incompetência política. Ele tem uma poderosa força política demonstrada com a sua própria eleição e resguarda-se, como também tenta fazer o seu antecessor, Eduardo Paes. O PMDB, por sua vez, tem dificuldades em sua representação política no Rio. Seu quadro carioca de expressão em Brasília  é o gato angorá, Moreira Franco. O governador Pezão é o que é (ou não é) e o vice-governador Francisco Dornelles já não existe na prática. Os demais quadros partidários são políticos locais, municipais, sem expressão na cúpula nacional do partido. Restaria um quadro aliado mais próximo, de outro partido, o Roberto Jefferson, imobilizado para esse tipo de função. Outros companheiros da aventura golpista do PMDB seriam os relacionados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maias, mas os eventos recentes sugerem que esses atiçam lenha na fogueira do Fora Temer!

Sem quadros de representação política e ameaçado por um abalo na ordem pública, o grupo golpista faz de tudo para garantir o seu projeto, até porque o PMDB já superou há bastante tempo os constrangimentos de realizar uma intervenção em uma unidade federativa que ele mesmo governa.

Nesse cenário, não é absurdo esperar as ações anunciadas apontem, na prática, contra as manifestações políticas. Quem tiver a expectativa de uma repressão à criminalidade urbana que tire o seu cavalinho da chuva, que guarde as suas carteiras e que torça para não ser premiado com uma bala perdida.

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